Sibeli A.Viana
PUC Goiás/Instituto Goiano de Pré-história e
Antropologia
Pedro Paulo
Guilhardi
Programa Erasmus
Master in Prehistory and Quaternary/
Muséum National
d´Histoire Naturelle – Paris
Publicado em:
Maracanan/Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Maracanan/Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Programa de Pós-Graduação em História. - vol. VII - n.7, 2011 -
Rio de Janeiro: UERJ, 1999 - Anual
Editora: Marilene Rosa Nogueira da Silva
Responsável pelo número: Paulo Roberto Gomes Seda
Introdução
Os objetos permeiam as sociedades humanas em toda a sua
história. São inerentes à espécie humana. Em todas as sociedades, homens e
mulheres, do presente ou do passado, mantiveram uma relação simbiótica com os
objetos: produzindo-os, mas também sendo transformados por estes. A diversidade
de objetos que circundam o espaço humano é impressionante e isso não é um
fenômeno que se restringe aos tempos atuais, desde os contextos mais antigos,
os indivíduos estão em contato com uma quantidade e uma variação maior ou menor
de objetos. O estudo sobre as
relações entre os homens e os objetos sempre esteve presente nas investigações
arqueológicas e antropológicas, mas com objetivos e concepções diferenciadas
entre si e ao longo do tempo, baseamos em Gonçalves[i]
para destacar três destes momentos.
No
fim do século 19 os objetos etnográficos sustentavam os paradigmas
evolucionistas e difusionistas da época, que iam ao encontro, mesmo que de modo
indireto, às justificativas de colonização dos povos caracterizados como
“primitivos” pelas nações industrializadas dominantes. É também deste contexto
o mito do homo faber, que reconhecia
que a espécie humana era a única detentora da capacidade de produzir
ferramentas. O reconhecimento de que animais também produziam ferramentas e
transformavam seu meio para adequá-lo às suas necessidades se desenvolveu
posteriormente[ii].
O
avanço das pesquisas arqueológicas possibilitou reconhecer o caráter antrópico
das primeiras ferramentas e sua recuada antiguidade em torno de 2,0 milhões de
anos atrás, associada à espécie antropóide extinta. Pesquisas etológicas constataram que não é do chimpanzé a capacidade
mental para produzir uma lasca com gume afiado com o objetivo de desbastar o
pequeno graveto de capturar formigas. A produção de instrumentos para a
produção de novos instrumentos é referente apenas ao nosso gênero[iii].
Acrescente-se ainda o fato de o horizonte temporal dos chimpanzés, segundo
Ingold[iv],
ser curto, a produção de seus instrumentos e seu desempenho, são impelidos por
situações imediatas, não há acúmulo de experiências.
É
também a partir do século 20 que os estudos da relação dos objetos com as
sociedades humanas e seus indivíduos tomam outras dimensões analíticas. Nessa
fase, a ênfase não incide sobre o objeto em si, mas acerca dos seus “usos e significados para as
relações sociais [...]. O estudo comparativo dessas relações nos revelaria as
funções e os significados dos objetos materiais e dos traços culturais em
diferentes culturas.”[v].
Neste contexto, o que é essencial não é o objeto em si, mas o seu papel na
sociedade. Essa perspectiva favoreceu um distanciamento entre a arqueologia e a
antropologia.
Posteriormente,
com a arqueologia simbólica, cujo propósito é investigar o simbolismo presente
nas atividades humanas, os objetos voltam a ser privilegiados nas pesquisas,
tendo em vista que não são percebidos como elementos passivos ou resultantes
das relações sociais, mas como agentes ativos que estimulam o comportamento
humano:
“Os objetos
não apenas demarcam ou expressam tais posições e identidades, mas enquanto
parte de um sistema de símbolos que é condição da vida social, organizam ou
constituem o modo pelo qual os indivíduos e os grupos sociais experimentam
subjetivamente suas identidades e status.”[vi]
Os
objetos são classificados em diversas categorias e, dentre elas, elegemos a
categoria de instrumentos como eixo
de reflexão do presente artigo, em especial aquelas ferramentas concebidas,
produzidas e utilizadas em contextos sócio-culturais onde o registro histórico
não se fazia presente, a qual se convencionou denominar de “pré-história”.
[i] Reginaldo GONÇALVES. “Teorias
Antropológicas e Objetos Materiais. In: Antropologia dos objetos: coleções,
museus e patrimônios”. Coleção Museu
Memória e Cidadania. Rio de Janeiro, 2007, pp. 13-42.
[ii]
Dois exemplos bem
claros são o da formiga, representada desde a Grécia Clássica, nas fábulas de
Esopo, como um animal voltado para o trabalho, estes pequenos insetos sociais
constroem verdadeiras cidades subterrâneas (B. WEBER. Le jour des fourmis. Paris.
Albin Michel,1992).
Outro exemplo refere-se ao do chimpanzé, que, dentre os animais é o que mais se
aproxima do Homo sapiens. Seu cérebro
desenvolvido lhe permite desbastar gravetos para utilizá-los como ferramentas
na coleta de formigas em sua alimentação.
[iii] Steven MITHEN. Pré-história da mente - uma busca das origens da arte, da religião
e da ciência. UNESP, São Paulo, 426 p. 2003.
[iv]
Tim INGOLD. “Tools and hunter-gatherers”. in: A. Berthelet; J. Chavaillon.
(dirs), The use of tools by humans and non-humans primates. Oxford,
Clarendon Press, 1993, pp. 281-295.
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