Saudosa maloca, maloca querida
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Adoniram Barbosa
Colegas, amigos e parceiros,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Adoniram Barbosa
Colegas, amigos e parceiros,
No próximo mês faz um ano que iniciamos a luta por nossa permanência na Casa do Capão do Bispo. Já deveríamos ter saído dali em agosto de 2011. Com ajuda de muita gente (petição, blog, facebook, abraço a Casa, mensagens eletrônicas e cartas enviadas a Secretária de Cultura, etc.) conseguimos postergar, mas não mudar a decisão do Estado: esta foi nossa última semana no Capão, ele esta vazio, já retiramos todo o material... Pois é, não conseguimos, apesar de toda a luta, reverter a situação. Faltaram algumas coisas: não tivemos apoio da imprensa (saíram duas matérias no O Globo - logo no início -, uma matéria em um jornal do bairro e uma matéria na Revista de História da Biblioteca Nacional), embora tenhamos procurado insistentemente espaço na mídia (jornal, tv, rádio). Faltou também apoio político (porque isso, no fundo, é uma decisão política - ou politiqueira): conseguimos apenas apoio do Deputado Paulo Ramos (mas que também não avançou muito); os órgãos institucionais que regulam a arqueologia no Brasil, também não deram o apoio desejado ou necessário. Tivemos bastante apoio da Defensoria Pública da União no RJ, através do Dr. Daniel Macedo e do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado, através da Dra. Samantha de Oliveira, no sentindo de resguardar o material que a Casa abrigava e conseguir mais tempo junto ao Estado. A justificativa era sempre que o Estado é dono do imóvel e tinha todo o direito de nos retirar da Casa. Isto nunca foi contestado. Mas, a questão era muito mais profunda: era da importância e do significado social e cultural de nossa presença ali. A discussão, portanto, ia além de um direito de propriedade. Sobretudo, faltou maior compreensão, maior boa vontade da Secretaria de Cultura e do Estado. Em nome de uma política de estado, estabeleceu-se a intransigência, a recusa em negociar. Por vezes, parecia que o processo se tornara algo pessoal. Contudo, como ressaltou Giordano Bruno, somos muito inocentes, ao esperar que aqueles que detêm o poder, reformulem o poder.
O que será feito com a Casa, após a nossa saída, não sabemos, isto, a Secretaria nunca deixou claro. As respostas foram sempre evasivas, tipo "vamos fazer um concurso junto à população para ver o melhor destino da Casa", como se isto fosse democrático (na verdade mostra apenas que não sabem o que fazer ou não querem dizer). O IAB e nós saímos de lá, mas o patrimônio histórico que é a Casa permanece. Deve-se também enfatizar que, independente das opiniões (sim, porque há pessoas que acham que devíamos sair da Casa mesmo), a decisão do Estado acaba com um centro de formação de pesquisadores importantíssimo: foi ali que aprendemos arqueologia. Diversos pesquisadores ali formados estão espalhados pelo Brasil.
Hoje, isso tudo acabou. Não adianta ficar com subterfúgios: fomos derrotados na intenção de permanecer na Casa.
Nossa luta, porém, continua: ela agora se dá em outro nível, na busca de um local onde possamos retomar tudo que fazíamos no Capão do Bispo Estamos a procura. O que nos foi oferecido, até agora, não atendia nossos desejos. Perdemos a Casa, mas descobrimos uma força que não sabíamos ter, ganhamos uma união ainda maior, o que nos faz lançarmo-nos a novos caminhos, novas buscas.
Todos já devem ter ouvido falar, da profecia maia de que o mundo irá acabar em 2012. Mas, isso é só um aspecto da profecia. Na verdade, os maias, assim como outros povos da Mesoamérica, acreditavam que o mundo já havia acabado pelos menos três vezes, sempre em função de grandes cataclismos. Eles estavam no quarto mundo, que teria o mesmo destino dos anteriores. Se pararmos para pensar, de fato, onde os maias viviam o mundo já acabou diversas vezes: são terremotos, grandes erupções vulcânicas, furacões, enchentes, etc.
Contudo, os maias também acreditavam que, cada vez que o mundo era destruído, ele renascia aprimorado, melhor. Pensem em um vulcão: quando ele entra em erupção, causa uma grande destruição, acaba com tudo. Porém, ao mesmo tempo, deixa uma camada de solo novo, onde a vida renasce muito mais viçosa. Era assim que os maias viam o eterno mecanismo de destruição e renascimento, sempre ressurgindo aprimorado. Não necessariamente um aprimoramento material, mas moral, espiritual.
Nosso mundo também parece ter acabado. Mas, ele ressurgirá, acreditem, e aprimorado. Não começaremos do zero, porque levaremos conosco nossa história, nosso conhecimento, nossa experiência, nossa determinação e nossos sonhos. E, “sonho que sonha só, é só um sonho. Mas, sonho que se sonha junto, é realidade” , já disse o Raul!
Agradecemos, profundamente, a todos aqueles que estiveram juntos de nós nessa empreitada, que nos apoiaram, incentivaram, compreenderam e lutaram conosco. Não nos abandonem, ainda temos muito que fazer, coisas muito boas ainda virão.
CONSTRUÍREMOS UM CAPÃO DO BISPO CEM VEZES MAIS BONITO!
A minha casa está onde está o meu coração
Ele muda, minha casa não
No campo, em minas, terras gerais ou qualquer lugar
Onde estou, a minha casa está
Samuel Rosa – Chico Amaral
Paulo Seda
Arqueólogo
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