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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Carta aberta à Secretária de Cultura, Sra. Adriana Rattes enviada por Leila Maria Serafim Pacheco, Vice-Cônsul da Embaixada do Brasil em Mascate

À Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro

Prezados Senhores,

Nos últimos anos o Brasil tornou-se o país da moda no mundo e o Rio de Janeiro a cidade sob os holofotes internacionais. Como sabemos, essa evidência só fará aumentar até os Jogos Olímpicos, o que trará para o país e para o Estado toda a mídia internacional. Certo é que tal cobertura não se restringirá à questão esportiva. Todos os aspectos sócio-econômicos e culturais do país e do territorio fluminense estarão sob a lente de aumento do mundo.
Falará muito bem de nosso país e de nosso estado mostrar ao mundo o quanto o governo brasileiro investe tanto no seu futuro quanto no seu passado.
Mostrar o respeito pela ciência, mesmo uma tão sofisticada e dependente de recursos oficiais quanto a arqueologia, criará tanto impacto positivo quanto exibir instalações esportivas de ponta. 
Não apenas por esse motivo, venho me juntar ao apelo pela revisão da decisão de destituir o Intituto de Arqueologia Brasileira de sua sede há mais de 40 anos – o Capão do Bispo, no Rio de Janeiro.
O apelo é para que a corajosa e benvinda decisão de restauração de tão importante patrimônio histórico do Rio de Janeiro, devida pelo Estado há tantas décadas e finalmente determinada pela nova gestão, não perca seu impacto altamente positivo pela desapropriação de grande parte da história da arqueologia do Rio de Janeiro.
Como é do vosso conhecimento, a graduação em  arqueologia no Brasil se limitou ao Rio de Janeiro, por décadas. Eram membros do Instituto de Arqueologia Brasileira pelo menos metade dos docentes da então única faculdade de arqueologia do país e, pela excelência de seu trabalho, o IAB era o formador em pesquisa de campo de grande parte dos alunos egressos do curso.
Toda essa história está ali, registrada e indelevelmente ligada ao Capão do Bispo.
A arqueologia no Brasil sempre lidou com escassez total de recursos. Todos sabemos que não é culpa do IAB o estado de conservação do prédio. A mão estendida do Estado para reparar a sede, permitindo não apenas a continuidade, mas a melhoria da pesquisa realizada pelo IAB, será motivo de aplauso, não apenas da comunidade científica brasileira.
Por que não refazer o convênio com o IAB, oferecendo a restauração total do Capão do Bispo e exigindo em contra-partida deles visitações públicas ou aulas para escolas estaduais e municipais?
Em arqueologia, aprendemos que todas as fases de ocupação de um local são importantes. Não esqueçamos o exemplo de Tróia, onde foi privilegiado, erroneamente, o mais antigo em detrimento de outras ocupações igualmente importantes, tendo sido destruída assim parte preciosa da Grecia antiga.
Rogo, ao lado de meus colegas de formação, para que essa Secretaria da Cultura não apague parte importante da história recente do Rio de Janeiro e que não se perca uma oportunidade de ouro de valorizar a ciência e o patrimônio arqueológico brasileiro.

Respeitosamente,

Leila Maria Serafim Pacheco, Dra.
Vice-Cônsul
Embaixada do Brasil em Mascate

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