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terça-feira, 3 de julho de 2012

Betty



É com tristeza, saudade e pesar que recebemos a notícia do falecimento de nossa grande amiga Betty Jane Meggers. A Doutora Betty Meggers, sem dúvida, foi um dos maiores nomes da história da arqueologia na América. Juntamente com seu marido, Clifford Evans, desenvolveu pesquisas, sobretudo na Amazônia Brasileira e no Equador, cujos resultados até hoje são referência para a Arqueologia Latinoamericana. Betty Meggers foi também importantíssima no desenvolvimento da moderna Arqueologia Brasileira. Em meados da década de 1960, juntamente com seu marido, Clifford Evans, foi mentora do PRONAPA. Esse grande projeto promoveu inúmeras prospecções e pequenas escavações em diversos estados do Brasil, utilizando técnicas, métodos e terminologia homogêneas, levando a um primeiro quadro das culturas pré-históricas brasileiras. Além disso, o Programa serviu também para alicerçar a formação de diversos arqueólogos brasileiros e criar sólidos laços de companheirismo entre eles.

Após o final do Programa, a maioria dos pesquisadores e mesmo alguns que dele não participaram, mas que se associaram a sua filosofia, proposta e metodologia, continuaram pesquisando, criando projetos e programas semelhantes, procurando aprimorar e aprofundar o conhecimento arqueológico.
Em 1985, em uma avaliação pessoal da Arqueologia Brasileira, Betty Meggers, sobre o Programa, observou que:

Esses anos foram exaustivos mas estimulantes para nós, assim como para os 11 arqueólogos brasileiros que fizeram um trabalho pioneiro em mais de 1.500 sítios que foram investigados no Pará, Rio Grande do Norte, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, Guanabara, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os sítios cerâmicos foram agrupados em fases e tradições, dezenas de seqüências seriadas forneceram cronologias relativas e algumas datações de Carbono 14 permitiram direcionar suas sequências. Quando a reunião final do PRONAPA foi realizada em Washington em 1973, já haviam sido estabelecidos os princípios cronológicos e culturais da ocupação da faixa costeira, o que permitiu interpretações preliminares sobre o curso e o processo de desenvolvimento cultural desde os assentamentos mais antigos até o século XVIII (MEGGERS, B. Prehistoria Sudanericana - nuevas perspectivas, 1987: 153).

De fato, o PRONAPA, juntamente com outras iniciativas, como a Missão Franco-Brasileira, inaugurou uma nova fase da Arqueologia Brasileira: a de uma arqueologia realmente científica, moderna (dentro dos parâmetros da época), metodológica e teoricamente embasada, ou seja:

A Arqueologia Brasileira entrou nos anos 1960 em uma fase muito dinâmica, com trabalhos por todo o país. Missões estrangeiras cresciam em número, criando projetos nacionais com fundos estrangeiros. Isto marcaria profundamente os métodos aqui usados, influenciando toda uma geração de pesquisadores, agora em atividade (ANDRADE LIMA, T. Patrimônio arqueológico, ideologia e poder. Revista de Arqueologia, 1988: 25).

Isso, de certa forma, todos sabem ou reconhecem, é história. O que nem todos sabem, por não terem convivido com ela, é o lado humano, a pessoa cativante que era Betty. Com sua aparência de fragilidade, sempre retraída, até mesmo tímida eu diria, Betty era alguém de uma força e resistência impressionantes, como atesta sua produção até avançada idade. Cientista brilhante que não se deixou seduzir pelos louros da carreira, era de uma humildade, generosidade e atitude fraternal ímpares, sempre pronta ajudar um colega, mesmo os que não eram de seu convívio mais íntimo, seja buscando recursos, seja remetendo bibliografias (tenho orgulho de possuir algumas de sua biblioteca pessoal, que ela, por sua própria iniciativa, me repassou).

De fato, a Arqueologia Brasileira e Americana sentirá muita sua ausência. Mas, é da pessoa que ela era que sentiremos mais falta.

Paulo Seda
Diretor Presidente do IBPA e amigo de Betty Meggers

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